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ESTADO DA NAÇÃO 2022
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A educação é central para os indivíduos e para o país e é essencial assegurar ganhos salariais _

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A educação é central para os indivíduos e para o país e é essencial assegurar ganhos salariais _

numa década, o salário médio dos portugueses apenas aumentou para os menos qualificados

A educação é fundamental para uma melhor situação salarial e laboral, mas também para uma melhor saúde mental e bem-estar. Continuar a estudar compensa, mas, numa década, os salários apenas aumentaram para os menos qualificados. Portugal arrisca-se a comprometer os incentivos das gerações vindouras a prosseguir os estudos se o salário médio não aumentar.

1.1 _ A EDUCAÇÃO TRAZ MUITAS VANTAGENS AOS INDIVÍDUOS E AO PAÍS
1.2 _ MESMO COM NÍVEIS SALARIAIS BAIXOS, A EDUCAÇÃO CONTINUA A COMPENSAR, MAS CADA VEZ MENOS

1.1 _ A EDUCAÇÃO TRAZ MUITAS VANTAGENS AOS INDIVÍDUOS E AO PAÍS

1.1 _ A EDUCAÇÃO TRAZ MUITAS VANTAGENS AOS INDIVÍDUOS E AO PAÍS
1.2 _ MESMO COM NÍVEIS SALARIAIS BAIXOS, A EDUCAÇÃO CONTINUA A COMPENSAR, MAS CADA VEZ MENOS

Mais educação beneficia a situação profissional e os rendimentos

A educação traz benefícios muito significativos, nomeadamente ao nível de oportunidades no mercado de trabalho e ganhos nos rendimentos. Em Portugal e no mundo, é um facto que níveis de educação mais elevados geram melhores perspetivas de emprego, salários superiores, carreiras mais estáveis, maior satisfação laboral e melhores condições de trabalho. As vantagens estendem-se a outras dimensões da vida, como a saúde e a vida em sociedade, contribuindo para o bem-estar individual e coletivo [1].

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DE AUMENTO DE PROBABILIDADE DOS INDIVÍDUOS COM ENSINO SUPERIOR ESTAREM ENTRE OS 40% DA POPULAÇÃO COM MAIOR RENDIMENTO

Analisando a população portuguesa e, tendo em conta variáveis como idade, sexo, região e grau de urbanização, conclui-se que a um nível superior de educação está associada uma maior probabilidade de estar empregado e de integrar os dois níveis mais elevados de rendimento. Face a indivíduos com o máximo de ensino secundário, os que têm o ensino superior têm uma probabilidade 16% superior de estarem empregados e 50% superior de estarem entre os 40% da população com maior rendimento. Os mesmos valores para a comparação entre ensino secundário e ensino básico são 10% e 29%, respetivamente.

Efeitos da educação na probabilidade de estar empregado e de estar entre os 40% da população com maior rendimento

FONTES: Inquérito Nacional de Saúde (INE) e FJN

NOTAS: Dados do Inquérito Nacional de Saúde de 2019. Resultados da estimação de um modelo de equações estruturais. Como variáveis exógenas foram consideradas um indicador do nível de escolaridade (ensino superior ou não), o sexo do indivíduo, a sua idade, a região e grau de urbanização. Como variáveis endógenas foram consideradas um indicador da situação profissional (empregado ou não), um indicador para os dois quintis mais elevados de rendimento; um índice sobre saúde mental (escala de 0 a 10) e um índice para bem-estar geral (escala de 0 a 10). Detalhes do modelo no Anexo Metodológico.

Mas também a saúde mental e o bem-estar

Os benefícios da educação vão muito além do âmbito profissional e do rendimento, estendendo-se a outras áreas da vida, como a saúde mental. Níveis superiores de educação também estão associados a melhor saúde mental. Os indivíduos com o ensino superior reportam níveis de saúde mental 0,13 acima dos restantes, numa escala de 1 a 10. Já os que têm o ensino secundário reportam níveis de saúde mental 0,20 pontos acima dos que não passam do ensino básico.

No limite, a educação está associada ao bem-estar e esta relação pode ser direta ou indireta, quando mediada por fatores como a situação profissional, rendimento e saúde mental.

Um nível superior de educação contribui para um rendimento mais elevado, um emprego de melhor qualidade, ou melhor saúde mental e estes fatores, por sua vez, também contribuem para uma melhor perceção de bem-estar.

O efeito total de ter um curso do ensino superior no bem-estar amonta a 0,65 pontos numa escala de 0 a 10 pontos. É interessante verificar que metade deste efeito da educação no bem-estar é indireto e materializa-se por via da situação profissional, financeira e de saúde mental. A outra metade do efeito deve-se a outros aspetos como, por exemplo, saúde em geral, segurança no mercado de trabalho, competências sociais, como a participação cívica, tolerância à diferença, entre outros [1].

Já para o ensino secundário, o efeito total da educação é cerca de metade do ensino superior - 0,32, mas o efeito indireto que se materializa via a situação profissional, financeira e de saúde mental, tem um maior peso, de cerca de três quartos.

Efeitos diretos e indiretos da Educação Superior, por faixa etária

FONTES: Inquérito Nacional de Saúde (INSA/INE) e FJN

NOTAS: Dados do Inquérito Nacional de Saúde de 2019. Resultados da estimação de um modelo de equações estruturais. Como variáveis exógenas foram consideradas um indicador do nível de escolaridade (ensino superior ou não), o sexo do indivíduo, a sua idade, a região e grau de urbanização. Como variáveis endógenas foram consideradas um indicador da situação profissional (empregado ou não), um indicador para os dois quintis mais elevados de rendimento; um índice sobre saúde mental (escala de 0 a 10) e um índice para bem-estar geral (escala de 0 a 10). Detalhes do modelo e resultados para o ensino secundário no Anexo Metodológico.

O benefício da educação difere entre gerações e é menor para os mais jovens

A associação entre educação e a situação profissional, o rendimento, a saúde mental e o bem-estar difere entre as gerações mais jovens (até aos 34 anos) e as gerações mais velhas, sendo sempre menor para os mais jovens.

O efeito da educação na probabilidade de estar empregado é menos forte nas gerações mais novas do que entre os mais velhos, sugerindo que a massificação da educação superior tornou um curso superior menos distintivo e um menor garante de sucesso no mercado de trabalho do que em gerações anteriores.

Esta realidade vem reforçar a importância da aprendizagem ao longo da vida e do desenvolvimento de competências socioemocionais, assim como a importância do alinhamento entre a educação e o mercado de trabalho.

O efeito da educação na probabilidade de ter um rendimento mais elevado também é mais forte nas gerações mais velhas do que entre os mais novos, apesar da diferença não ser estatisticamente significativa.

Embora seja natural que o rendimento aumente com a experiência profissional ao longo da vida, os estudos que comparam o efeito da educação no mercado de trabalho para a mesma faixa etária, mas em diferentes períodos do tempo, confirmam que os ganhos salariais associados à educação têm diminuído.

Enquanto para as gerações nascidas nos anos 50 um ano adicional de escolaridade aumentava o salário em 9,1%, para as gerações nascidas nos anos 90, esse valor caiu para quase metade e não ultrapassava os 4,8% [2]. Um nível de educação mais elevado continua a compensar, mas menos do que no passado.

Outro resultado que difere entre gerações mais novas e mais velhas está relacionado com a associação entre educação e saúde mental e bem-estar. Entre os jovens, mais educação não está associada a um nível de saúde mental superior e a associação com o bem-estar é menor que nas gerações mais velhas. Este resultado coloca a dúvida se a diferença é específica às faixas etárias mais jovens e se vai esbatendo ao longo da vida, ou se deriva de um menor valor do ensino superior e do consequente defraudar de expectativas sobre o retorno da educação no mercado de trabalho.

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AUMENTO SALARIAL POR UM ANO ADICIONAL DE ESCOLARIDADE PARA GERAÇÕES NASCIDAS NOS ANOS 50

0,8%

AUMENTO SALARIAL POR UM ANO ADICIONAL DE ESCOLARIDADE PARA GERAÇÕES NASCIDAS NOS ANOS 90

As qualificações, mas sobretudo as competências, são fulcrais para o crescimento e desenvolvimento económico dos países

Os benefícios da educação não se limitam ao indivíduo que a completa, mas estendem-se a outros: a colegas de trabalho, a elementos da família e até às gerações seguintes. Também se estendem à performance das empresas, conferindo-lhes mais inovação, competitividade e produtividade. A um nível mais agregado, os estudos confirmam o esperado: países com uma população mais escolarizada desfrutam de um maior crescimento e desenvolvimento económico.

Apesar do nível de educação formal ser o principal indicador de competências, pela sua disponibilidade nos dados em termos históricos e internacionais, é consensual que essa medida não consegue captar totalmente as diferenças em termos de competências.

Educação e competências não são equivalentes devido a diferenças de qualidade do ensino entre países, ou até dentro do mesmo país, ou devido a diferenças nas capacidades inatas dos indivíduos. Adicionalmente, as competências também podem ser desenvolvidas fora do contexto educativo e formativo. Esta discrepância é desde logo visível pelas diferenças entre indivíduos com o mesmo nível de educação formal.

São vários os estudos a mostrar que, mais do que o nível de educação formal, são as competências da população que mais impactam o crescimento económico [3]. Se consideradas as competências da população, a educação formal deixa de estar associada ao crescimento económico – um sinal que é através das competências que a educação formal impacta o crescimento económico. Estas evidências demonstram que é necessário não só garantir mais educação, mas também que esta dote os indivíduos com competências relevantes ao longo da vida, para obter o melhor retorno no mercado de trabalho e em outras dimensões da vida.

mais do que o nível de educação formal, são as competências da população que mais impactam o crescimento económico _

1.2 _ MESMO COM NÍVEIS SALARIAIS BAIXOS, A EDUCAÇÃO CONTINUA A COMPENSAR, MAS CADA VEZ MENOS

1.1 _ A EDUCAÇÃO TRAZ MUITAS VANTAGENS AOS INDIVÍDUOS E AO PAÍS
1.2 _ MESMO COM NÍVEIS SALARIAIS BAIXOS, A EDUCAÇÃO CONTINUA A COMPENSAR, MAS CADA VEZ MENOS

Os ganhos de rendimento associados a maiores níveis de qualificação são claros, mas estão em queda

A importância da educação para as pessoas e para o país é de tal modo fundamental que é fulcral garantirem-se as condições e os incentivos necessários para que os indivíduos tenham acesso e apostem na sua educação e no reforço de competências. Em grande medida, os incentivos passam pelo prémio salarial associado a mais qualificações.

Na última década, os ganhos de rendimentos associados a maiores qualificações diminuiu, não só em Portugal como em vários países europeus. Em 2020, os trabalhadores portugueses com o ensino secundário tinham um rendimento, em média, 24% superior aos trabalhadores com o ensino básico, valor que caiu 8 pontos percentuais face a 2010 (32%). Esta foi a quinta maior queda entre os países da União Europeia, apenas superior na Polónia e Letónia (-10 p.p.), Croácia (-11 p.p.) e Lituânia (-14 p.p.).

A queda da diferença entre rendimento do ensino superior face ao ensino secundário no mesmo período foi ainda superior, na ordem dos 18 pontos percentuais, de 62% em 2010 para 44% em 2020. Esta queda foi a mais pronunciada de todos os países europeus, seguida de perto apenas pela Polónia (17.5 p.p.). Apesar desta queda, o ensino superior continua a conferir um ganho médio de rendimento substancial: os trabalhadores portugueses com ensino superior têm, em média, um rendimento 44% superior ao dos trabalhadores com o ensino secundário.

Ganho de rendimento médio entre o ensino secundário e o ensino básico e entre o ensino superior e secundário em 2010 e 2020

FONTES: Eurostat e FJN

NOTAS: Rendimento líquido equivalente médio dos indivíduos entre os 18 e 64 anos em paridade de poder de compra. Classificação dos níveis de escolaridade no Anexo Metodológico. Valores das percentagens arredondados às unidades.

Portugal está entre os países da União Europeia com rendimentos mais baixos

O decréscimo do prémio de rendimento associado à educação pode ser explicado pelo forte aumento da população ativa com ensino superior verificado na última década, principalmente entre a população mais jovem.

Mas é particularmente preocupante num país que continua a ser pautado por uma força de trabalho com baixas qualificações e rendimentos baixos que, em termos reais, não têm aumentado. Em 2020, o rendimento médio (em paridade de poder de compra) em Portugal era de 14.691€, o 8º mais baixo da União Europeia.

A desagregação por níveis de qualificações revela que os trabalhadores portugueses com qualificações baixas tinham um rendimento médio de 11.441€, o 10º mais baixo entre os 27 países membros. Esta era também a posição portuguesa para os trabalhadores com ensino secundário, com um rendimento médio de 14.216€. Já entre os trabalhadores com ensino superior, os portugueses são os nonos com um rendimento mais baixo, que não ultrapassava os 20.476€.

Acresce que, em 2020, o rendimento médio dos trabalhadores portugueses com educação superior era menor do que o dos trabalhadores com o ensino secundário em 12 países (Itália, Irlanda, Finlândia, França, Malta, Bélgica, Holanda, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Luxemburgo) e do que os trabalhadores menos escolarizados em 4 países (Finlândia, Holanda, Dinamarca e Luxemburgo).

evolução do Rendimento médio por país da União Europeia entre 2010 e 2019

FONTES: Eurostat e FJN

NOTAS: Rendimento líquido equivalente médio dos indivíduos entre os 18 e 64 anos em paridade de poder de compra.

Numa década, os salários apenas aumentaram para os menos qualificados

Estas tendências são confirmadas por outra fonte de dados que permite desagregar o salário líquido anual em diferentes faixas etárias e distinguir os diferentes ciclos do ensino superior. O aumento do salário médio entre 2011 e 2019 esteve limitado ao grupo de trabalhadores menos qualificados, o que se deve em grande medida ao aumento do salário mínimo e à evolução da negociação coletiva. Registaram-se aumentos de 5% para os trabalhadores com ensino básico, mas quedas de 3% e 11% para os trabalhadores com o ensino secundário e superior, respetivamente. Para os mais jovens, a situação é semelhante, com uma queda do salário líquido mais acentuada no ensino superior: -15% entre os licenciados, -12% entre os mestres e -22% entre os doutorados.

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AUMENTO SALARIAL PARA TRABALHADORES COM ENSINO BÁSICO

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DIMINUIÇÃO SALARIAL PARA TRABALHADORES COM ENSINO SECUNDÁRIO

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DIMINUIÇÃO SALARIAL PARA TRABALHADORES COM ENSINO SUPERIOR

Variação dos salários entre 2011 e 2019, por nível de escolaridade e faixa etária

FONTES: Inquérito ao Emprego (INE) e FJN

NOTAS: Total = 18 a 64 anos. Jovens = 25 a 34 anos. Preços constantes.

Ainda assim, mais educação continua a compensar mesmo para os mais jovens

Apesar do salário real médio em 2019 ser ainda menor do que o de 2011 na maioria dos níveis de escolaridade, continuam a existir ganhos salariais associados à continuação de estudos para qualificações superiores. Desta análise fica claro que, em média, mais educação continua a compensar em termos salariais.

Em 2019, níveis de escolaridade mais elevados do que o ensino secundário, que hoje em dia é obrigatório, continuavam a compensar. Uma licenciatura trazia, em média, um salário 50% superior face ao ensino secundário e quem completava um mestrado ganhava, em média, mais 6% face a uma licenciatura. Os prémios salariais também se verificavam nos jovens adultos e eram superiores face à generalidade da população para os mestrados. Para os jovens entre os 25 e os 34 anos, o mestrado era já o nível de escolaridade que tinha o maior prémio salarial, com ganhos de 43% face ao ensino secundário e 15% face às licenciaturas.

evolução dos salários reais entre 2011 e 2021, por nível de escolaridade e faixa etária

FONTES: Inquérito ao Emprego (INE) e FJN

NOTAS: Total = 18 a 64 anos. Jovens = 25 a 34 anos. Preços constantes.

Durante a crise pandémica, os salários médios reais aumentaram para todos os níveis de escolaridade. Esta subida pode não resultar de um aumento de salário efetivo por trabalhador, mas sim de um efeito estatístico resultante de uma recomposição do emprego. Este efeito é comum durante períodos recessivos em que os postos de trabalho eliminados são os mais frágeis, tipicamente com menos qualificações, experiência profissional e remunerações mais baixas, o que eleva o salário médio.

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