guia sobre o ensino profissional: uma escolha com futuro.
guia sobre o ensino profissional: uma escolha com futuro.
PARA TODOS OS QUE QUEREM SABER MAIS SOBRE O ENSINO PROFISSIONAL_
O ensino profissional dá resposta A milhares de jovens como tu _
Ao contrário do preconceito comum, o ensino profissional não é uma opção de segunda linha: 40% dos jovens que frequentam o ensino secundário optaram por esta via, muitos deles com elevado desempenho académico.
O ensino profissional é cada vez mais valorizado pelos empregadores e, também por isso, o seu reforço tornou-se uma prioridade para Portugal e para todos os países europeus, que precisam de ofertas formativas fortes para promover o seu crescimento.
A comparação entre trabalhadores com o ensino secundário - uns com o ensino profissional e outros com o ensino geral - revela duas mensagens essenciais. Primeiro, no curto prazo, o ensino profissional oferece vantagens salariais e de empregabilidade. Segundo, essas vantagens vão-se esbatendo ao longo da vida profissional, até desaparecerem ou serem convertidas em desvantagem. No entanto, os estudos mais recentes para Portugal mostram que, mesmo no médio e longo prazo, as diferenças salariais entre os dois percursos têm vindo a diminuir.
Este Guia expõe os benefícios e os desafios do ensino profissional, aponta os caminhos possíveis e explica-te como te podes informar para tomares as tuas próprias decisões!
sete RECOMENDAÇÕES QUE PODEM AJUDAR _
Vence os preconceitos
_ O ensino profissional é, muitas vezes, conotado como sendo uma opção educativa de segunda linha, mas o preconceito não tem fundamento. Se sentes que o ensino profissional é a opção que serve os teus objetivos e aptidões, não hesites em avançar: farás parte dos quase 40% de jovens do ensino secundário que frequentam o ensino profissional. A meta de Portugal é fazer essa percentagem crescer até aos 55% até 2030.
Pensa no curto e no longo prazo
_ Nos primeiros anos de vida profissional, o ensino profissional está associado a melhores índices de empregabilidade e salários mais elevados. Deves tirar proveito disso, mas não deixes que esse fator pese demasiado na tua decisão, uma vez que, no longo prazo, podes tornar-te menos competitivo face a trabalhadores que também têm o ensino secundário, mas pela via científico-humanística.
Continua a estudar ao longo da vida
_ Ao longo da vida profissional, os trabalhadores com ensino profissional tornam-se menos competitivos (em termos de empregabilidade e em termos salariais) porque a sua formação específica lhes confere menor capacidade de adaptação às mudanças e inovações tecnológicas nos seus setores. A melhor forma de investires em ti próprio e de salvaguardares o teu futuro é continuares a desenvolver e atualizar as tuas competências. Para te ajudar a aprender ao longo da vida, a Fundação José Neves publicou um Guia, que deves consultar.
Informa-te: as decisões tomam-se com boa informação
_ Procura conhecer os mercados de trabalho e as áreas profissionais com maior potencial de empregabilidade futura, assim como as competências associadas a cada uma dessas áreas. Existem muitos dados que te podem orientar — sobre competências, salários médios, potencial de crescimento, impacto regional. Explora essa informação na plataforma Brighter Future, da Fundação José Neves.
Não excluas o ensino superior do teu horizonte
_ Mesmo se nunca te imaginaste numa universidade ou num politécnico, não desistas do ensino superior: experimenta os cursos TeSP. Estes cursos estão em franco crescimento e já apresentam efeitos positivos para os seus diplomados, quer nas remunerações, quer na prossecução dos estudos –mais de metade dos que concluem um curso TeSP inscrevem-se novamente no ensino superior para frequentar licenciaturas.
Não te iludas com promessas de vantagens garantidas
_ Cada setor de atividade tem o seu contexto, pelo que as vantagens competitivas do ensino profissional poderão ser maiores ou menores em função das áreas de formação que escolheres e em que trabalhares. Ou seja, quando ponderares as tuas escolhas, procura ter em conta o potencial desenvolvimento das áreas de atividade em que pretendes trabalhar, de modo a avaliares as vantagens da tua opção pelo ensino profissional. Nunca é demais repetir: informa-te.
Aproveita bem o estágio
_ No curso profissional, o estágio é um momento-chave, não somente porque te permitirá aprender em contexto de trabalho, mas também porque será a tua primeira oportunidade de obter um emprego — quase 1 em cada 5 jovens do ensino profissional ficam a trabalhar na empresa onde estagiaram. Aprende, descobre o que gostas de fazer e aproveita as oportunidades que te surjam.
...um terço dos jovens matriculados no ensino secundário frequenta um curso profissional?
No ano letivo 2020/2021, havia 115.135 alunos inscritos nos cursos profissionais do ensino secundário, o que corresponde a 33% do total. Se juntarmos todas as vias profissionalizantes, isto é, as ofertas de educação e formação no ensino profissional, a percentagem chega aos 39%. Já entre os que terminam o ensino secundário no ano letivo 2020/2021, 37% fê-lo pela via profissionalizante. Nos últimos 10 anos, esta percentagem manteve-se estável, mas Portugal tem como ambição atingir os 55% até 2030.
...quem fez um curso profissional tem, em média, maior facilidade em obter emprego?
14 meses depois de concluírem um curso profissional, 51% dos jovens estavam a trabalhar e 9% estava simultaneamente a trabalhar e a estudar. Quem faz um curso profissional tem vantagem na entrada para o mercado de trabalho comparativamente a quem opta por um curso científico-humanístico.
...as vantagens do ensino profissional face ao científico-humanístico se esbatem ao longo do tempo?
No início da vida profissional, um jovem com o ensino secundário que tenha optado pelo ensino profissional terá maior probabilidade de obter emprego e uma remuneração mais elevada, do que quem tenha optado pelo ensino científico-humanístico. No entanto, passados dez anos, essa vantagem esbate-se e, em determinados casos, pode converter-se em desvantagem. A solução é apostar na aprendizagem ao longo da vida.
...1 em cada 5 jovens que concluíram cursos profissionais obtém emprego na empresa onde estagiaram?
A realização de um estágio é uma das caraterísticas mais distintivas dos cursos profissionais e, para além de uma excelente oportunidade de aprendizagem, permite a muitos jovens encontrar uma colocação rápida no mercado de trabalho.
...Um terço dos jovens que concluíram um curso profissional optam por prosseguir os estudos?
Em 2019, 34% dos jovens que haviam completado o ensino profissional decidiram continuar a estudar, avançando para o ensino superior. 22% frequentaram uma licenciatura numa universidade e 23% frequentaram uma licenciatura num instituto politécnico. Quase metade dos jovens (48%), preferiu inscrever-se num curso Técnico Superior Profissional (TeSP), num instituto politécnico. Os cursos TeSP estão em crescimento acelerado e são cada vez mais procurados: em 2022, matricularam-se 19.526 jovens, o que corresponde ao triplo dos inscritos em 2016.
Terás de escolher: curso científico-humanístico ou curso profissional?
Em Portugal, o ensino secundário é obrigatório e, antes de o iniciares, tens de escolher que tipo de curso queres frequentar. Há duas vias para fazeres o ensino secundário:
_o ensino geral ou via científico-humanística, constituída por cursos científico-humanísticos;
_o ensino profissional ou via profissionalizante, que inclui vários cursos de dupla certificação, ou seja, cursos que conferem uma certificação escolar do ensino secundário e uma qualificação profissional. Neste tipo de ensino, há vários tipos de cursos, mas a maioria dos alunos opta por cursos profissionais.
A tua escolha implica decidires, essencialmente, entre um curso científico-humanístico ou um curso profissional: atualmente, em Portugal, cerca de 93% dos alunos matriculados no ensino secundário frequentam um destes tipos de cursos.
Os cursos científico-humanísticos correspondem aos 10º, 11º e 12º anos de escolaridade. Todos os cursos científico-humanísticos têm a mesma componente geral (as disciplinas de português, filosofia, língua estrangeira e educação física) e cada um tem a sua componente específica, ou seja, as disciplinas ligadas à natureza desse curso científico-humanístico. Estes cursos são vocacionados, sobretudo, para o prosseguimento de estudos de nível superior, universitário ou politécnico.
Os cursos profissionais são um dos tipos de cursos do ensino profissional ou via profissionalizante e têm como objetivo o desenvolvimento de competências sociais, científicas e profissionais, necessárias ao exercício de uma atividade profissional. Estes cursos preparam os jovens para a entrada qualificada no mercado de trabalho, mas também permitem a continuação de estudos no ensino superior.
O preconceito em relação ao ensino profissional existe, mas é enganador
Existe a perceção geral de que as qualificações adquiridas nas vias científico-humanísticas são mais valorizadas do que as competências profissionais pelos portugueses. Ou seja, o ensino profissional é visto como oferta não prioritária e de qualidade inferior, destinada aos jovens que não encontram outras alternativas. Esse preconceito está tão enraizado que, mesmo involuntariamente, muitas vezes é alimentado pelos próprios agentes educativos nas escolas básicas e secundárias, fazendo crer que se trata de uma resposta educativa e formativa para maus alunos (cf: José Luís Presa ANESPO, no Observador).
Num estudo a nível europeu realizado pela Mckinsey (2013), em que foram inquiridos mais de 5.200 jovens de 8 países (incluindo Portugal), os próprios jovens assumem o preconceito face ao ensino profissional. Em cinco países, os estudantes que concluíram uma licenciatura universitária consideram que a sociedade valoriza mais um curso académico do que o ensino profissional. No entanto, acreditam também que o ensino profissional teria, provavelmente, sido mais útil para encontrarem um emprego.
Opiniões dos alunos dos cursos científico-humanísticos
Nota: Os valores indicam a percentagem de alunos que responderam sim às afirmações.
Fonte: McKinsey (2013), Education to Employment: Getting Europe’s Youth into Work
Para além disso, em quatro dos países analisados, a maioria dos jovens enveredou pela sua opção educativa preferida, quando esta era a via científico-humanística. No entanto, mais de metade dos jovens que preferiam seguir a via profissional, acabaram por não a seguir.
Isto sugere que o ensino profissional é uma opção seguida por menos alunos, mas os dados mostram que este tipo de ensino não é destinado aos maus alunos. Se duvidas, então repara nas médias das classificações no ensino secundário: 53% dos alunos dos cursos profissionais terminam o ensino secundário com média final entre 15 e 17 valores, enquanto nos cursos científico-humanísticos esse valor desce para 39%. Atenção, não estamos a comparar cursos diferentes como se fossem iguais, mas apenas a sublinhar a mensagem-chave: os alunos que têm bons resultados no ensino profissional são bons alunos com motivação para aprender nesses cursos.
Alunos que seguiram a sua opção educativa preferida
Fonte: McKinsey (2013), Education to Employment: Getting Europe’s Youth into Work
Média das classificações no secundário, por tipo de curso
Nota: Valores arredondados às unidades.
Fonte: DGEEC, OTES: Jovens no pós-secundário em 2019
As empresas procuram cada vez mais quem tem formação profissional
O preconceito em relação ao ensino profissional é enganador. De acordo com o Inquérito à Identificação das Necessidades de Qualificações nas Empresas (2020), a procura por trabalhadores com formação profissional é cada vez maior. No inquérito, as empresas indicaram que metade (49,9%) das suas necessidades de recrutamento eram trabalhadores com formação profissional — por outro lado, só cerca de um terço (32,2%) dos recrutamentos se destina a trabalhadores com curso do ensino superior. Ainda mais revelador é que, em 2020, cerca de 71% das qualificações em que se registam dificuldades de recrutamento requeriam cursos de ensino não superior (profissional), sendo as mais referidas Técnico de restaurante/bar e Eletricista de instalações. Ou seja, as empresas procuram trabalhadores com formação profissional e lamentam a escassez de oferta, que gera dificuldades de recrutamento.
O ensino profissional já é uma prioridade internacional Várias organizações internacionais têm insistido na importância estratégica do ensino profissional para o desenvolvimento social e económico. Por exemplo, no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 – “Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” – foi assinada a Agenda Educação 2030, coordenada pela UNESCO. Foi também definida uma Estratégia para a Educação e Formação Técnica e Profissional, que tem como principais objetivos assegurar o desenvolvimento de competências-chave para acesso ao mercado de trabalho, incluindo a possibilidade de autoemprego, a melhoria da capacidade de resposta às alterações de procura de competências, o aumento da produtividade e do nível salarial.
A nível europeu, o Centro Europeu para o Desenvolvimento Profissional (CEDEFOP) reconhece que o ensino profissional oferece um conjunto alargado de benefícios económicos e sociais, para os indivíduos, empresas, organizações e sociedade em geral, tais como: maior capacidade de corresponder às necessidades do mercado de trabalho, acesso a salários competitivos logo no início da vida profissional e inúmeras oportunidades de progresso nas carreiras profissionais.
Fonte: Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP), Nota Informativa Maio 2011, ISSN 1977-3943
Uma prioridade para Portugal: 55% dos alunos no ensino profissional
Portugal não é exceção. No Plano Nacional de Reformas 2022 – Qualificação dos Recursos Humanos, o Governo definiu como objetivo ter, até 2030, 55% dos diplomados do ensino secundário por via profissionalizante (onde se incluem os cursos profissionais). No ano letivo 2020/2021, dos alunos que concluíram o ensino secundário, 37% fê-lo por essa via.
De acordo com dados do Eurostat, em 2020, a maioria dos alunos portugueses no ensino secundário (61%) estavam matriculados no ensino geral (científico-humanístico) e cerca de 39% em cursos do ensino profissional. A nível internacional, Portugal está entre os países com menor percentagem de alunos no ensino profissional e, portanto, abaixo da média europeia (49%).
Alunos com ensino profissional
ATUALMENTE (2020/21)
META ATÉ 2030
Alunos do ensino secundário a frequentar o ensino profissional, por país (2020)
Fonte: Eurostat
A necessidade de mais alunos no ensino profissional é consistente com as conclusões do relatório da OCDE, Skills Strategy Implementation Guidance for Portugal, que reconhece que uma mão-de-obra mais qualificada, com mais competências, cognitivas, analíticas e digitais, é fundamental para o desenvolvimento da economia portuguesa.
Quão rápida pode ser a inserção no mercado de trabalho em Portugal?
Se pensas matricular-te num curso profissional, é normal teres a expetativa de que esse curso te permitirá entrar rapidamente no mercado de trabalho. A questão é: quão rapidamente? Não existe um número mágico para te orientar: a empregabilidade varia em função da área profissional ou da região do país em que estejas. Mas existem dados que comprovam os benefícios na empregabilidade no curto prazo. Olhando para os dados mais recentes (2019), entre os jovens que concluíram um curso profissional, 51% estavam a trabalhar 14 meses depois, enquanto 25% estavam a estudar e 9% estavam a fazer ambos em simultâneo. No caso dos jovens que concluíram um curso científico-humanístico, apenas 6% estava a trabalhar passados 14 meses, 83% estava a estudar e 7% a fazer ambos em simultâneo.
Distribuição dos jovens por atividade realizada no pós-secundário, por tipo de curso
Nota: “Outra situação” incluem formações no Centro de Emprego, carta de condução, formações específicas em determinadas áreas, entre outras. Valores arredondados às unidades.
Fonte: DGEEC, OTES: Jovens no pós-secundário em 2019
O que nos dizem estes dados?
Primeiro, é natural que quem tenha optado por um curso profissional, o tenha feito a pensar entrar mais rapidamente no mercado de trabalho. Segundo, a relação entre o ensino profissional e o mercado de trabalho funciona: os jovens conseguem emprego rapidamente. De resto, os jovens saídos do ensino profissional que estão a trabalhar têm uma opinião muito favorável sobre o contributo do curso para a sua situação laboral: 86% considera que o curso aumentou a sua possibilidade de encontrar um emprego.
Se virmos dados mais detalhados, referentes a 2017, constatamos precisamente essa rapidez: 48% dos jovens saídos do ensino profissional dizem ter conseguido emprego imediatamente após o final do curso e 38% diz tê-lo conseguido em seis meses ou mais. A comparação para os cursos científico-humanísticos é significativa: apenas 19% obtém emprego no final do curso e 17% no período de seis meses ou superior.
Inserção dos jovens no mercado de trabalho nos últimos 14 meses, por tipo de curso
Fonte: DGEEC, OTES: Jovens no pós-secundário em 2017
Como obter emprego após concluir o curso profissional? Há vários caminhos
É fácil sentires-te desorientado com as inúmeras possibilidades que estão à tua disposição. Conseguir um emprego pode ser uma tarefa fácil, mas pode igualmente tornar-se um processo complicado e frustrante. Não desmotives e pensa nas melhores estratégias para ti: submeter candidaturas espontâneas, pedir ajuda a amigos ou familiares, inscreveres-te num centro de emprego ou responder a anúncios.
De acordo com os dados mais recentes, referentes a 2019, 30% dos jovens que concluíram o ensino secundário profissional e estão a trabalhar, conseguiram emprego através de candidatura espontânea. 23% dos jovens conseguiu emprego através da ajuda de pessoas próximas, 19% obteve emprego na empresa onde realizou o seu estágio e 8% conseguiu-o respondendo a um anúncio.
Modo de inserção no mercado de trabalho de jovens que terminaram o ensino profissional
Nota: Estão incluídos apenas os jovens exclusivamente a trabalhar. Valores arredondados às unidades.
Fonte: DGEEC, OTES: Jovens no pós-secundário em 2019
Há benefícios de curto prazo, mas a situação altera-se no longo prazo
Vários estudos comprovaram os benefícios, a curto prazo, do ensino profissional em termos de empregabilidade. De acordo com dados de vários países, no início da vida profissional, um jovem com o ensino profissional tradicional tem maior probabilidade de estar empregado (+ 8 pontos percentuais) do que um jovem da mesma idade que tenha um curso científico-humanístico. Ou seja, o impacto inicial de integração no mercado de trabalho dos jovens com o ensino profissional é positivo (conseguem uma integração num curto espaço de tempo), fruto de os cursos trabalharem competências técnicas específicas e em contexto de trabalho (estágios), o que facilita a inserção.
Contudo, com o passar dos anos, a vantagem ao nível de empregabilidade dos trabalhadores com o ensino profissional, esbate-se e, em alguns casos, pode mesmo converter-se em desvantagem competitiva. Nada disto implica que, ao longo do tempo, a situação individual de quem tem formação profissional vá piorando. O que acontece é que, comparativamente aos outros trabalhadores, a situação de quem tem formação profissional pode deixar de ser tão competitiva relativamente aos trabalhadores da via científico-humanística.
Existem soluções para te manteres competitivo no mercado de trabalho
Vários estudos indicam que as diferenças no currículo explicam a alteração de capacidade competitiva ao longo do tempo, referida anteriormente. Por um lado, o ensino científico-humanístico permite o desenvolvimento de conhecimento geral que, apesar de ter menor aplicação prática imediata, cria maior capacidade para ajustamentos ao mercado de trabalho a longo do tempo (por ex. para responder mais rapidamente a alterações tecnológicas). Por outro lado, o ensino profissional forma os alunos para profissões concretas, com base na tecnologia e no conhecimento existente no momento, que podem ficar rapidamente desatualizados. Ou seja, o que pode tornar-te mais ou menos competitivo, com o passar do tempo, é a tua flexibilidade para enfrentar desafios imprevisíveis.
Isto é uma boa notícia porque significa que se os trabalhadores que optaram pelo ensino profissional investirem na atualização das suas competências ao longo da vida, estarão mais bem preparados para lidar com essa evolução. De resto, isto aplica-se a todos os tipos de trabalhadores, razão pela qual a Fundação José Neves disponibiliza um Guia que te explica como podes aprender ao longo da vida.
Benefícios de curto prazo, perda de competitividade mais tarde
No que diz respeito aos salários, os estudos internacionais demonstram que, entre os trabalhadores com o ensino secundário, os que optaram pelo ensino profissional têm vantagens salariais de curto prazo, face aos que optaram pelo ensino científico-humanístico. Neste caso, contudo, as diferenças entre remunerações não são simples de quantificar, pois oscilam muito em função das áreas profissionais.
Tal como no caso da empregabilidade, a vantagem salarial inicial de quem opta pelo ensino profissional vai-se esbatendo ao longo dos anos, até desaparecer ou ser convertida em desvantagem. Em fases mais avançadas da carreira, os trabalhadores com ensino profissional tendem a apresentar salários inferiores aos dos trabalhadores com o ensino secundário pela via científico-humanística.
Isto não significa que, ao longo do tempo, a situação individual de quem tem formação profissional vai piorando. O que acontece é que, comparativamente a outros trabalhadores, a situação individual de quem tem formação profissional deixa de ser tão competitiva. Porquê? Porque o ritmo de crescimento salarial dos trabalhadores com formação cientifico-humanística é mais acelerado, acabando por ultrapassar os níveis salariais dos trabalhadores com formação profissional.
Esta potencial desvantagem de médio e longo prazo do ensino profissional varia de país para país, tanto em grau como em velocidade. Por exemplo, no Reino Unido, a vantagem inicial dos trabalhadores provenientes do ensino profissional diminui acentuadamente ao longo do tempo, mas nunca desaparece. Pelo contrário, na Suécia, durante os primeiros dez anos no mercado de trabalho, desaparece a vantagem salarial que um indivíduo formado no ensino profissional tem em relação a quem provenha da via cientifico-humanística — e, assim, converte-se em desvantagem.
Estas tendências internacionais também se constatam em Portugal…
No geral, estudos recentes sobre a realidade portuguesa mostram-se alinhados com as conclusões dos estudos internacionais. Isto aplica-se quanto aos efeitos positivos de curto prazo do ensino profissional, assim como à sua evolução a médio e a longo prazo.
Por exemplo, de acordo com um estudo de 2019, que analisou o percurso profissional de cerca de 630.000 estudantes portugueses com o ensino secundário, nascidos entre 1974 e 1990, que entraram no mercado de trabalho entre 1993 e 2009, constata-se que, no início de carreira, os salários dos trabalhadores com o ensino profissional são em média 2% mais elevados do que os dos jovens provenientes do ensino geral.
No entanto, os salários dos trabalhadores com ensino profissional crescem mais lentamente ao longo dos anos e, a partir dos oito anos de experiência no mercado de trabalho, são ultrapassados pelos salários dos trabalhadores com cursos científico-humanísticos. Resumindo: no início, os trabalhadores provenientes do ensino profissional, ganham 2% mais; com cinco anos de experiência profissional, ganham 0,7% mais e, ao fim de dez anos de experiência, a desvantagem salarial é de 0,6%. Após 15 anos de experiência, ganham 2% menos.
… mas o mercado de trabalho português está a mudar
Um estudo recente sobre a realidade portuguesa identificou uma mudança importante: a competitividade salarial dos trabalhadores com ensino profissional é cada vez menos prejudicada no longo prazo, tal como acontece noutros países, como a Finlândia.
Este estudo analisa a evolução no mercado de trabalho de trabalhadores portugueses, nascidos entre 1951 e 1994, que terminaram o ensino secundário e não prosseguiram estudos, comparando trabalhadores com o ensino profissional e trabalhadores com o ensino científico-humanístico. As diferenças salariais entre os dois grupos de trabalhadores têm vindo a diminuir acentuadamente ao longo das últimas décadas, em particular para quem nasceu na década de 1970 ou depois, tendo atualmente uma baixa expressão. Ou seja, há cada vez menos diferenças salariais entre quem optou pelo ensino profissional e quem optou pelo ensino científico-humanístico, mesmo passados muitos anos no mercado de trabalho.
Há duas razões principais para a evolução verificada. Por um lado, as características do ensino profissional aproximaram-se das do ensino científico-humanístico. Por exemplo, o currículo do ensino profissional tem conhecido alterações substanciais, com as componentes gerais (a disciplina de Português, por exemplo) a ganharem um destaque crescente.
Por outro lado, surgem as razões económicas e diretamente relacionadas com o mercado de trabalho. Na última década, o rendimento real aumentou apenas para os trabalhadores menos qualificados (5%), devido ao aumento do salário mínimo. Para os trabalhadores qualificados com ensino superior, neste período, observou-se uma perda salarial que atingiu os 11%. Ou seja, o nível de educação da população cresceu mais rapidamente do que a capacidade tecnológica e a produtividade da economia portuguesa, logo, diminuiu o impacto da educação nos salários. Este fator influencia a comparação entre trabalhadores que se formaram no ensino científico-humanístico e os que se formaram no ensino profissional.
há cada vez menos diferenças salariais entre quem optou pelo ensino profissional e quem optou pelo ensino científico-humanístico
É possível manter o teu salário competitivo
Lembra-te: todos os desafios têm solução. No caso da perda de competitividade salarial, a melhor forma de estares protegido é continuares a aprender ao longo da vida. Quem investe continuamente nas suas qualificações consegue atualizar conhecimentos, adaptar-se às inovações tecnológicas e adquirir novas competências — o que será reconhecido e recompensado pelo mercado de trabalho. Se não sabes por onde começar, consulta este Guia da Fundação José Neves sobre a aprendizagem ao longo da vida.
As opções à tua disposição
A maioria dos jovens no ensino secundário estão matriculados em cursos científico-humanísticos (60% no ano letivo 2020/2021). Os restantes alunos (40%) optaram pelo ensino profissional e distribuem-se entre vários tipos de cursos, com clara preponderância para os cursos profissionais, que abrangem 33% do total dos alunos matriculados no ensino secundário.
O que nos indica esta distribuição de alunos? Primeiro, os cursos profissionais são a principal alternativa aos cursos cientifico-humanísticos. Segundo, no ensino profissional, para além dos cursos profissionais, existem outras opções que te permitem encontrar as respostas formativas que procuras. Entre essas opções, estão os cursos com planos próprios, os cursos de aprendizagem e os cursos artísticos especializados, entre outros. Todos estes cursos são destinados a quem conc