guia para pais e professores: como apoiar a saúde mental e bem-estar dos jovens?
GUIA PARA pais e professores: como apoiar a saúde mental e bem-estar dos jovens?
PARA PAIS, FAMILIARES E PROFESSORES QUE QUEREM SABER COMO IDENTIFICAR E AGIR PERANTE OS SINTOMAS E PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL DOS JOVENS _





RECOMENDAÇÕES PARA PAIS E PROFESSORES
Adolescentes de hoje, os adultos do amanhã: A importância de investir no bem-estar e na saúde mental dos jovens _
Investir na saúde mental e no bem-estar dos adolescentes é um passo fundamental para que eles possam construir um futuro sólido e sustentável, com melhor saúde física e mental. O sucesso do futuro dos adolescentes depende da importância que pais e educadores dão à sua saúde mental e bem-estar e aos ensinamentos que lhes transmitem.
A saúde mental e o bem-estar influenciam a forma como os adolescentes se relacionam com eles mesmos e com os outros, na forma como lidam com novas experiências, como se definem no início da idade adulta e na maneira como se projetam no futuro. O desconhecimento sobre os efeitos das emoções e pensamentos nos seus comportamentos e a falta de estratégias eficazes para gerirem os desafios do dia a dia têm um grande impacto na qualidade de vida dos adolescentes e podem resultar no aparecimento de sintomas ansiosos, depressivos, entre outros. Cada jovem enfrenta desafios próprios durante o seu desenvolvimento, tendo os pais e os professores um papel fundamental na sensibilização para a importância da saúde mental e no processo de descoberta da resposta mais adaptativa e resiliente aos desafios que surgem durante a adolescência.
recomendações para pais e familiares _
Reconheça a importância da saúde mental
_ É altura de reconhecer que o seu filho cresceu e como tal começar a atribuir-lhe a maturidade que este tanto deseja. Com esta maturidade advém também responsabilidade, por isso tenha conversas honestas e adultas sobre o seu comportamento, sobre temas sensíveis como a sexualidade, consumo de substâncias e sobre o futuro.
Respeite a opinião e individualidade do seu filho
_ É altura de envolver o seu filho nas decisões importantes da sua vida. Considere os seus sentimentos e pensamentos para que este se sinta ouvido e valorizado. Ajude-o a tomar decisões acertadas e saudáveis, mas encorajando-o neste exercício de autonomia e responsabilidade.
Demonstre interesse na vida do seu filho
_ Não só o currículo académico merece ser alvo da sua atenção. Conheça os amigos, os hobbies e os desafios que este tem enfrentado na conciliação de todas as esferas da sua vida.
Encoraje o seu filho a ser saudável
_ E quando falamos de saúde, referimo-nos à saúde no seu todo. Desde hábitos de vida saudável como alimentação, exercício físico e abstinência do consumo de substâncias, ao autocuidado, ao equilíbrio entre escola e amigos, à higiene do sono, tempo online ou em ecrãs.
Corrija o seu filho, mas celebre também os seus esforços e conquistas
_ Esteja presente nos momentos difíceis e ajude o seu filho a compreender lições importantes por detrás dos seus erros, mas não se esqueça de o felicitar também por cada conquista e passo importante em direção ao seu futuro.
Peça ajuda a um profissional
_ Este guia não substitui a necessidade de um acompanhamento ou auxílio técnico e especializado. Fale com o Médico de Família, com um Psicólogo ou Psiquiatra. Em alternativa ligue para a Linha de Aconselhamento Psicológico do SNS24.
recomendações para professores _
Transmita literacia em saúde psicológica
_ Se for Diretor(a) de Turma, invista algum tempo em atividades de promoção de conhecimento sobre saúde psicológica. Isto demonstrará aos jovens a importância de se falar abertamente e sem estigma do bem-estar e saúde mental e será uma forma de ter toda a turma alerta para possíveis sintomas neles próprios e nos colegas, minimizando a probabilidade de estes jovens ficarem sem ajuda.
Normalize o pedir ajuda
_ Disponibilize-se para ajudar os seus alunos em qualquer situação, não só com problemas académicos. Assegure-lhes que pedir ajuda não é motivo de vergonha e que mesmo os adultos precisam de ajuda a dado momento.
Estabeleça rotinas e regras saudáveis na sua sala de aula
_ Muitas vezes, durante a correria do dia a dia, todos nós estabelecemos hábitos de vida menos saudáveis. Encoraje os alunos a fazerem pausas, a participarem nas atividades desportivas da escola e a fazerem escolhas de lanches mais nutritivos.
Alerte os seus alunos para os perigos das novas tecnologias e do cyberbullying
_ Na era digital em que vivemos, existem ainda mais oportunidades dos jovens serem vítimas de bullying, assédio e serem expostos a múltiplas formas de violência. Para além disso, as redes sociais são muitas vezes uma fonte adicional de sofrimento, instigando a comparação com padrões irrealistas de corpos e estilos de vida.
Peça ajuda a outro profissional
_ Este guia não substitui a necessidade de um acompanhamento ou auxílio técnico especializado mediante determinados quadros clínicos. Fale com o Psicólogo do seu centro escolar para juntos traçarem o melhor plano de ação e, se necessário, alerte e envolva os pais do jovem neste processo.

… 1 em cada 7 jovens entre os 10 e os 19 anos sofre de perturbações mentais?
Nas últimas décadas, os jovens têm vindo a ser cada vez mais afetados por problemas de saúde mental e, atualmente, estima-se que 1 em cada 7 pessoas dos 10 aos 19 anos tenha uma perturbação do foro mental. No ensino português, existe uma média de 25 alunos por turma, o que faz com que possam existir cerca de 3 a 4 jovens com dificuldades ao nível da saúde mental em cada turma. Existe uma elevada probabilidade destas perturbações persistirem até à idade adulta, impactando significativamente o futuro destes adolescentes.

… o suicídio é a quarta principal causa de morte em adolescentes dos 15 aos 19 anos?
A adolescência pode ser um período particularmente desafiante devido a muitas pressões e conflitos. Em determinados momentos, na perspetiva dos jovens, o seu sofrimento toma proporções tão grandes que não são capazes de encontrar soluções para lidarem com o que lhes está a acontecer. Alguns adolescentes chegam mesmo a pensar, a planear e a efetivamente praticar comportamentos de automutilação, recorrendo ao sofrimento físico para se distraírem da dor emocional que estão a sentir e/ou, em casos extremos, acabando por pôr termo à própria vida.
... as perturbações emocionais e as alimentares são as mais prevalentes na adolescência?
As perturbações emocionais, como a depressão e a ansiedade, e as perturbações alimentares são os problemas de saúde mental que afetam mais adolescentes. Estas perturbações são particularmente frequentes nestas idades devido à emergência de mais responsabilidade, à importância da imagem e dos relacionamentos com os pares e às mudanças corporais que ocorrem nesta fase do desenvolvimento.
… 50% das perturbações diagnosticadas nos adultos surgem na adolescência?
Frequentemente, as perturbações mentais que emergem na adolescência não são detetadas pelos pais ou professores destes jovens. A ausência de tratamento faz com que os sintomas se mantenham até à idade adulta e comecem a interferir de forma mais significativa com a vida destas pessoas, conduzindo então ao seu diagnóstico já em adultos. Se detetadas e tratadas atempadamente, estas perturbações teriam menos probabilidade de se tornarem crónicas e de interferirem com o futuro dos jovens.
A adolescência é um mundo de oportunidades, mas também de desafios
A adolescência, geralmente entre os 10 e os 19 anos de idade, é o período de desenvolvimento humano com algumas das maiores e mais transformadoras mudanças, ao nível físico, cognitivo e socioemocional. Estes processos de mudança incluem alterações hormonais e morfológicas, alterações nos padrões de sono, dificuldades na regulação das emoções, mudanças na importância e na natureza das relações com os outros e alterações na perceção que os jovens têm sobre eles mesmos. A importância das imagens corporais e sociais ganha outra dimensão, influenciando a forma como os jovens se veem a eles próprios e ao mundo em seu redor. É também durante este período de desenvolvimento que os pares e grupos sociais exercem uma maior influência sobre o comportamento dos jovens, diminuindo a proximidade aos pais e adultos e a expressão de afeto para com estes.
A saúde mental dos adolescentes tem impacto para a vida
A adolescência é, por isso, um período sensível de desenvolvimento, durante o qual acontecimentos externos, sejam eles positivos ou negativos, exercem uma ação determinante no futuro dos jovens. É neste período que muitas formas de doença mental se começam a manifestar. No entanto, esta propensão está, muitas vezes, associada a fatores de risco presentes já durante a infância, nomeadamente suscetibilidades hereditárias e temperamentais, fatores de risco familiares e vulnerabilidades sociais e cognitivas. Estas fragilidades podem afetar o desenvolvimento normal do adolescente e levar a problemas na sua saúde psicológica. Ainda assim, a maioria dos adolescentes atingem o início da idade adulta com uma perceção positiva de si mesmos, relacionamentos fortes e uma boa qualidade de vida.

A ausência de tratamento dos sintomas de perturbação mental durante a adolescência faz com que estes persistam até à idade adulta e, eventualmente, comecem a afetar significativamente a vida destas pessoas. Da mesma forma, a manutenção de comportamentos desadaptativos para evitar estes sintomas negativos fazem com que novos problemas possam emergir, impactando a vida ao nível pessoal e profissional.
Desde a dificuldade em desenvolver novos relacionamentos sociais, manter uma ocupação profissional estável, incapacidade de cumprir com as funções ocupacionais, até ao início do consumo de substâncias para diminuir o sofrimento psicológico. O tempo entre o surgimento dos primeiros sintomas de doença mental e o início de intervenção adequada (farmacológica ou psicoterapêutica) é bastante determinante na disfuncionalidade causada pela doença e na sua duração.
Os adultos próximos têm um papel preponderante
Face aos desafios e mudanças inerentes à adolescência, é esperado que os jovens sintam que estão constantemente a enfrentar problemas e, em resposta, expressem emoções como frustração, tristeza, ansiedade, raiva, etc.
Os pais e educadores são os adultos que mais tempo passam com os adolescentes, desempenhando, desta forma, um papel determinante na deteção de alterações no comportamento e humor destes e, consequentemente, no apoio e intervenção que podem dar e promover.
No entanto, os jovens de hoje são diferentes dos jovens de outros tempos e os desafios de hoje não são os mesmos que os adultos enfrentaram na sua altura. Isto representa uma dificuldade adicional para os adultos e é normal que sintam dificuldade em perceber quando é que os adolescentes precisam de ajuda ou enfrentam problemas de doença mental.
Seja no contexto escolar ou familiar, os adultos mais próximos são também os principais modelos na vida dos jovens, servindo como referência no processo de definição da sua própria identidade e exploração de múltiplos papéis (por exemplo, eu na escola, eu com os amigos, eu em casa, eu com o/a parceiro/a romântico/a) característicos deste período de desenvolvimento. É com base em redes de suporte seguras e positivas que os adolescentes adquirem a confiança para talhar o seu próprio caminho. É também na estabilidade e aceitação que os adolescentes se refugiam para enfrentar este período altamente mutável e desafiante.
Desta forma, os pais e educadores ocupam um papel de especial importância no futuro dos jovens. Pela proximidade aos jovens podem auxiliá-los nas suas vivências, potenciando o seu desenvolvimento ótimo e, também, minimizar o seu sofrimento e o impacto da exposição a eventos externos negativos.
Perturbações emocionais e alimentares são as mais prevalentes
Na adolescência, as doenças mentais mais prevalentes são as perturbações emocionais, como perturbações de ansiedade e a perturbação depressiva major, e as perturbações alimentares, como ingestão alimentar compulsiva, bulimia nervosa, anorexia nervosa. Com menos frequência, podem verificar-se problemas de conduta e défice de atenção e hiperatividade.
Independentemente da perturbação, nem todos jovens experienciam e/ou manifestam o seu sofrimento da mesma forma.
externalizar
Alguns adolescentes tendem a externalizar o sofrimento psicológico e, por isso, rebelam-se, envolvem-se em comportamentos desviantes e de risco, como experimentar tabaco, álcool, drogas, envolver-se em lutas ou atividades sexuais desprotegidas.
internalizar
Outros tendem a internalizar, isto é, isolam-se, não manifestam abertamente as suas dificuldades e, por isso, acabam por sofrer sozinhos.
Ambas as formas de expressão de baixo bem-estar ou de doença mental devem ser consideradas para evitar que os jovens desenvolvam uma relação pouco saudável com eles próprios, com os outros e com o mundo ao seu redor.
Alguns sinais de alerta no comportamento dos adolescentes
É importante que pais e professores estejam atentos a alguns sinais de alerta para poderem detetar alterações no comportamento dos adolescentes que indicam que estes poderão estar a enfrentar problemas com os quais não conseguem lidar sozinhos. Eis alguns a ter em conta:

Comportamento agitado e/ou irrequieto

Comportamentos de confronto ou de oposição para com os outros

Falta de motivação e/ou desinteresse por atividades que anteriormente gostava

Dificuldades de concentração

Diminuição do rendimento escolar

Isolamento social

Medo, preocupação constante ou ansiedade exagerada

Sentimentos frequentes de desânimo, tristeza e desesperança

Humor irritável e/ou agressivo

Cansaço, perda de energia ou fadiga

Baixa autoestima
Mas alguns destes sinais de alerta não são “normais”?
Alterações de comportamento, flutuações no humor e comportamentos desviantes são comuns e fazem parte de uma adolescência normal.
Aquilo que distingue estes comportamentos de sintomas de perturbações mentais é a duração, persistência e impacto na vida do adolescente.
A presença de sintomas característicos de perturbações mentais não significa que o adolescente esteja efetivamente a sofrer com um problema de saúde mental. Por vezes, estes sintomas são respostas naturais e adaptativas a acontecimentos de vida. Por exemplo, se um adolescente se chateou com um dos seus melhores amigos e por isso tem estado mais cabisbaixo, sem vontade de sair de casa e sem grande apetite, isto não significa que esteja deprimido/a. A tristeza é uma resposta saudável à perda e é preciso tempo para recuperar e processar o fim de uma relação de amizade próxima. Mas esteja atento se estes comportamentos persistirem por um período considerável (geralmente consideram-se 2 semanas) e começarem a afetar várias dimensões da vida do seu filho, por exemplo na escola, nos hobbies e noutras atividades habituais. Isso poderá ser um indicador de que está a precisar de ajuda para ultrapassar este evento significativo.

Da mesma forma, é normal que um adolescente manifeste preocupação com uma prova importante na escola e faça um esforço adicional no estudo para se preparar. A ansiedade serve esta função, para garantir que estamos prontos a agir face ao incerto e desconhecido. No entanto, se a ansiedade e a preocupação começarem a ser prolongadas, constantes e associadas não só com a escola, mas também com os amigos, com os pais, no desempenho de hobbies ou atividades extracurriculares, poderá indicar que o adolescente não está a conseguir gerir eficazmente as suas emoções.
O que pode fazer para ajudar
Esteja presente
Se quer realmente ajudar, o primeiro passo é estar presente. Comece por demonstrar a sua disponibilidade para ajudar. Mesmo que o adolescente não o queira fazer naquele momento, relembre a sua abertura para o ouvir. Caso o adolescente tome a iniciativa de falar consigo, escute atentamente as suas preocupações, não fazendo julgamentos ou reagindo impulsivamente ao que lhe está a confidenciar.
Não minimize nem compare o seu sofrimento
Sempre que o adolescente partilhar as suas vivências ou sofrimento, não minimize nem desconsidere os seus sentimentos. Abstenha-se de comparar a situação deste com irmãos, primos ou amigos e evite impor soluções chave ou que considera serem as melhores. Valorize o ato de partilha, incentive-o na procura de soluções alternativas e pergunte como o pode ajudar.
Normalize o ato de pedir ajuda
Demonstre ao adolescente a importância de pedir ajuda, que este ato não é sinónimo de fraqueza ou incapacidade. Pratique na primeira pessoa esta ação: sempre que estiver assoberbado, verbalize aquilo que está a sentir e recorra ao adolescente para o ajudar a diminuir o seu nível de ativação da ansiedade.
Esteja atento
Por vezes, quando estamos a falar com outra pessoa utilizamos palavras aparentemente inofensivas, mas que acabam por ser gatilho para alguma insegurança ou sofrimento. Sempre que estiver a falar com o adolescente, esteja atento ao seu comportamento não verbal, à forma como mantém contacto visual, à sua postura e à movimentação que faz com os seus pés/mãos. Por vezes o adolescente não verbaliza, mas o seu comportamento poderá dar-nos indicação de que algo que dissemos o poderá ter magoado e assim poderemos abordar essa questão e evitar que numa próxima vez o adolescente se feche e decida sofrer sozinho.
Outras estratégias que podem ser úteis…
- Ajude o jovem a compreender os motivos das suas preocupações
- Explique a importância de estabelecer limites e mostre-lhe a importância do saber dizer que “não”
- Explique ao jovem a importância de investir no seu desenvolvimento pessoal
- Ajude-o a implementar alguns hábitos de meditação ou relaxamento (e.g., exercícios de relaxamento, expor o que sente)
- Incentive o jovem a passar tempo com os amigos e explique-lhe a importância de estabelecer boas relações com os colegas/amigos
- Ajude o jovem a desenvolver estratégias de regulação das emoções e pensamentos negativos
- Alerte o jovem para a dimensão e impacto de uma boa higiene do sono, de uma alimentação saudável e para a importância do exercício físico
- Procure ajuda profissional, sempre que necessário
Os pais, professores e outros educadores desempenham um papel fundamental no desenvolvimento saudável dos jovens, no entanto, é importante relembrar que não têm de saber resolver todos os desafios que os adolescentes enfrentam. ‘Nem tudo passa com o tempo, nem todos os problemas são característicos da idade’, por isso, sempre que necessário, é importante procurar ajuda de profissionais especializados para que os adolescentes possam falar abertamente e desenvolver ferramentas importantes para o seu futuro.
Ajude os adolescentes a reconhecerem as suas emoções
Para que os adolescentes tenham consciência das suas emoções e o que fazer com elas, é fundamental que comecem por saber nomear as emoções e que, posteriormente, percebam quando e de que forma é que estas se podem manifestar. Neste sentido, é importante incentivar os jovens a estarem mais atentos ao que sentem para poderem encontrar as formas mais adaptativas para lidar com as suas emoções.
1 _ Exercício para refletir sobre as experiências emocionais
A maioria das nossas experiências emocionais não são fáceis de perceber, as emoções aparecem de tal forma misturadas que se torna difícil identificá-las e, consequentemente, perceber a mensagem que estão a tentar transmitir. As emoções podem ser fragmentadas em três componentes principais: Emoções/Sensações físicas (Como me sinto?), Pensamentos (O que é que estou a pensar?) e Comportamentos (O que é que fiz a partir do que senti ou pensei?).
Esta atividade é importante para os adolescentes tomarem consciência das situações emocionais que ocorrem no seu dia-a-dia. Para este exercício basta uma folha de papel dividida em três colunas (emoções/sensações físicas, pensamentos e comportamentos).

Ensine-lhes estratégias de regulação emocional
Parar, respirar profundamente, ter uma visão diferente da situação que espoletou a emoção (por exemplo, “se fosse um amigo a passar por esta situação o que lhe dirias?”) são dicas que podem ajudar os adolescentes a gerirem as suas emoções de forma mais eficaz.
A importância da aceitação
Durante a adolescência, os jovens têm tendência a interpretar as situações vivenciadas de uma forma muito própria, julgando as suas experiências emocionais em vez de as aceitarem. Mas só depois de aceitarem o que sentem é que podem perceber a melhor forma de agir. É importante terem consciência das suas experiências emocionais sem julgarem o que fazem, pensam ou sentem.
Para os adolescentes terem consciência das suas emoções sem as julgarem têm que se manter em contacto com as suas experiências emocionais, sejam agradáveis ou desagradáveis, e aceitá-las tal como elas são.
2 _ Exercício para relaxar através da respiração
As dicas descritas anteriormente são passos importantes para os adolescentes desenvolverem as suas capacidades de gestão emocional. No entanto, em determinadas situações, devido à alta intensidade das emoções, os jovens não são bem-sucedidos no processo de aceitação ou de fragmentação das experiências emocionais. Nestes momentos, é fundamental conseguir criar algum distanciamento sobre as situações vivenciadas para depois ser possível refletir sobre elas. Para isso, durante 2 a 4 minutos, o adolescente deve colocar a mão sobre a barriga (na zona do umbigo), inspirar em 4 segundos (empurrando o umbigo para dentro e para cima), suspender a respiração 1 segundo e expirar em 4 segundos (sentindo o umbigo descer). Este exercício pode ser feito sentado numa cadeira com a coluna alinhada e os pés bem assentes no chão ou deitado confortavelmente, de olhos fechados ou abertos.

3 _ Exercício para focar a atenção no momento presente
O foco no ‘Aqui e Agora’ ajuda o adolescente a reduzir os níveis de tristeza e ansiedade, focando a sua atenção no momento presente. Antes de começar, o jovem deve estar sentado de forma relaxada e de olhos fechados durante alguns minutos. De seguida, ajude-o a pensar no objetivo que quer alcançar com este momento de relaxamento. No final diga-lhe o seguinte: “Sentado(a) e com o corpo relaxado, fecha os olhos e tenta identificar 4 coisas que consegues ouvir e 6 sensações físicas que consegues identificar através do tato ou do olfato.” Este exercício permite-lhes estarem mais atentos ao ambiente à sua volta e ao momento presente.

Recursos adicionais a que pode recorrer
A responsabilidade de acompanhar os jovens ao longo do seu desenvolvimento é um desafio para os pais e professores. Para ajudar os educadores neste processo de acompanhamento contínuo, existem já algumas ferramentas que podem ajudar no desenvolvimento de estratégias e de novos recursos para utilizar com os jovens.
A app 29K – FJN disponibiliza exercícios, meditações e cursos desenhados especificamente para os jovens e que poderão ser úteis para o desenvolvimento de competências chave para os desafios específicos deste período de crescimento e que poderão não só potenciar um dia-a-dia mais feliz e equilibrado, como também facilitar a transição para a vida adulta _
A Ordem dos Psicólogos Portugueses disponibiliza um questionário direcionado para jovens que os ajuda a identificar o estado da sua saúde psicológica e poderá ser útil para estes refletirem sobre como se têm sentido nas últimas duas semanas _
A iniciativa Escola SaudávelMente da Ordem dos Psicólogos Portugueses distingue contextos e práticas educativas promotoras de uma aprendizagem e bem-estar ótimo. A plataforma reúne conteúdos dedicados aos alunos, pais, professores e diretores de escolas, de forma a mais facilmente se identificarem problemas ao nível da saúde psicológica e, consequentemente, aplicarem intervenções que minimizem o impacto destes problemas no desenvolvimento das crianças e jovens _
A Ordem dos Psicólogos Portugueses disponibiliza uma página onde poderá encontrar psicólogos de acordo com a sua área de especialidade e área de residência. Esta página facilitará o acesso a cuidados de saúde psicológica e ajudá-lo-á no processo de procura de ajuda _
Na página do Sistema Nacional de Saúde, poderá encontrar contactos de instituições de saúde da sua área de residência dedicadas à saúde mental na infância e adolescência _
Serviço de Aconselhamento Psicológico da Linha SNS 24
→ 808 24 24 24
Em situações de crise ou emergência poderá contactar o número 808 24 24 24 e receber assistência da linha de apoio psicológico do SNS 24 _
Se o jovem estiver com sintomas de ansiedade...
O João está no 9º ano de escolaridade e desde o 7º ano demonstra bastante dificuldade em fazer novas amizades. Sempre que tenta conhecer pessoas novas, fica ansioso e preocupado com a possibilidade de passar por situações constrangedoras ou dizer algo errado. Estes sentimentos começaram quando o João começou a ser intimidado e envergonhado por alguns colegas no balneário, antes e depois das aulas de educação física. O João começou então a faltar a estas aulas e a sentir-se ansioso cada vez que tem de interagir com algum colega, seja na sala de aula ou nos intervalos. Posteriormente, passou a evitar ir à escola, estando esta dificuldade a interferir com a sua vida social e com o seu desempenho académico.

Sinais de alerta para a ansiedade
- Preocupação constante e excessiva
- Evitamento de situações novas ou desconhecidas
- Procura de validação e certeza por parte do professor, colegas ou familiares
- Queixas físicas, por exemplo dor de barriga, coração acelerado, tremores, suores
O que dizer
- Use expressões como: “Como te sentes? Gostava de perceber como estás?” “Como é que te posso ajudar?”
- Evite expressões como: “Tem calma! Isso são tudo histórias da tua cabeça.” “Se não tens amigos é porque fizeste algo de errado.”
Se o jovem estiver com sintomas depressivos...
A Catarina tem 16 anos e está no 11º ano. Atualmente, mostra-se muito preocupada com os assuntos relativos à escola e nas suas atividades extracurriculares, como o teatro e aulas de canto, acabando por se sentir desanimada e duvidar das suas capacidades. Fica muito triste e frustrada consigo própria sempre que pensa que errou, afetando aquilo que ela pensa sobre si mesma e o futuro profissional após concluir o ensino secundário. Atualmente, anda bastante desmotivada, passa muito tempo sozinha no quarto e quando está com os seus amigos ou com a família discute com todos facilmente. A família da Catarina diz que ela não parece ser tão feliz como era. De facto, a Catarina já não gosta de fazer as coisas que anteriormente adorava, mesmo durante o verão entre o 10º e o 11º ano, período em que a pressão da escola era mínima.

Sinais de alerta para a depressão
- Tristeza ou irritabilidade
- Isolamento
- Falta de vontade ou de iniciativa
- Menor envolvimento na sala de aula ou em atividades sociais
- Comentários depreciativos sobre si próprio (“Não valho nada”, “não faço nada bem”)
- Visão negativa sobre o mundo e futuro (“nunca vou conseguir”, “não vale a pena porque eu nunca vou ser ninguém”)
- Maior sensibilidade a críticas
- Pensamentos suicidas e referências à morte (“só queria adormecer e não acordar mais”, “o melhor era se eu desaparecesse”)
O que dizer
- Use expressões como: "Compreendo perfeitamente o que estás a sentir. Podemos falar um pouco? Gostava de te ajudar.” “Consigo perceber que estás triste/frustrada/preocupada. Queres contar-me como foi o teu dia hoje?”
- Evite expressões como: “Não penses assim, isso passa! Deves estar a exagerar!” “Estás outra vez com essa cara? O que foi agora?” “As pessoas ficam preocupadas se te virem assim.”
Se o jovem estiver com uma perturbação do comportamento alimentar...
O António tem 13 anos e está no 8º ano. Desde o início da adolescência que pensa muito na alimentação e no exercício físico. Atualmente, o António tem hábitos alimentares rígidos e pouco saudáveis para conseguir perder peso, o que faz com que não consiga estar descontraído em situações sociais ou familiares, como jantares, festas de aniversário e outros convívios. O António mostra uma grande insatisfação com o seu peso, mesmo estando abaixo do adequado tendo em conta a sua altura e idade, comparando-se muito com todos os colegas e pessoas nas redes sociais. A sua alimentação é muito restritiva e baseada nos mesmos alimentos, o que eventualmente faz com que ingira grandes quantidades de alimentos num curto espaço de tempo, para depois, recorrer a comportamentos que visam evitar o aumento de peso como praticar exercício físico intenso. O António mostra-se resistente a alterar estes comportamentos porque acredita que o ajudam a manter-se numa boa forma física e mental.

Sinais de alerta para as perturbações do comportamento alimentar
- Comer sozinho ou escondido
- Dieta constante ou preocupação com controlo peso
- Evitamento de alimentos e locais associados a comida
- Falar constantemente sobre peso e aspeto corporal
O que dizer
- Use expressões como: “Como te sentes? Parece-me que tens evitado estar com os teus amigos. Almoças/lanchas sozinho. Queres-me dizer o que se passa? Eu não fico chateado, só te quero ouvir.” “Deixas-me ajudar-te? Podemos juntos pensar numa forma de lidar com o que estás a passar.”
- Evite expressões como: “Já viste como estás? Estás mesmo magro. Tens que comer!” “O que comeste hoje? Quase nada! Ainda vais ficar doente.”
De forma global…
Estes adolescentes são diferentes uns dos outros, diferem no sexo, idade, no que gostam de fazer e nas suas problemáticas. No entanto, os três são semelhantes em alguns aspetos: todos estão com dificuldades em gerir as emoções, em identificar os pensamentos e os comportamentos que decorrem das suas experiências emocionais, impossibilitando-os de desfrutarem de uma vida simples e feliz. O João, a Catarina e o António precisam de aprender estratégias para perceberem o que estão a sentir, precisam de saber como lidar com as emoções, não as evitando por completo, para poderem ter um dia-a-dia mais feliz. O seu papel como pai, mãe, familiar ou professor(a) é muito importante neste processo, seja ao ajudar o adolescente diretamente ou ao referenciá-lo para um psicólogo/a ou psiquiatra, caso necessário. O mais importante é que seja capaz de identificar que o jovem está a precisar de ajuda e que se disponibilize para o ajudar.
FICHA TÉCNICA
EDITOR_ Margarida Rodrigues (Fundação José Neves) AUTORES_ Pedro Morgado, Patrícia S. Coelho e Ana Daniela Costa (Escola de Medicina, Universidade do Minho)
PATROCÍNIO CIENTÍFICO_ Coordenação Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde
DIREÇÃO GERAL_ Carlos Oliveira GESTÃO DE INVESTIGAÇÃO_ Margarida Rodrigues DIGITAL_ Mónica Pacheco INFOGRAFIAS_ Pedro Figueiredo REVISÃO_ Cristina Alves
Este Guia foi revisto e atualizado em fevereiro 2024.
REVISÃO CIENTÍFICA_ Pedro Morgado (Universidade do Minho) REVISÃO EDITORIAL_ Susana Ambrósio (Gestora de Investigação) e Miguel Araújo (Assistente de Investigação)


