Guia para jovens e pais: como escolher o que estudar?
Guia para jovens e pais: como escolher o que estudar?
PARA JOVENS A TERMINAR O ENSINO OBRIGATÓRIO, PARA PAIS PREOCUPADOS COM O FUTURO DOS FILHOS E PARA TODOS OS QUE ESTÃO A DEFINIR O RUMO DOS SEUS ESTUDOS _
Não há uma receita única, o elemento-chave é a informação _
Não existe uma escolha melhor comum a todos. Não há uma receita única, nem uma espécie de guia ou manual que defina como se faz a melhor escolha — isto é, a escolha adequada a cada perfil individual. As pessoas são todas diferentes, têm prioridades e interesses diferentes, e o contexto em que vivem tem uma enorme influência nas suas expetativas e escolhas.
Se não há respostas comuns, há caminhos seguros para cada um encontrar as suas respostas. O elemento-chave desses caminhos é a informação. Informa-te sobre a oferta educativa que tens à tua disposição, compara as opções que mais te agradam, conhece as saídas profissionais e os dados sobre a sua empregabilidade, os seus salários e o seu perfil de funções. Decidir não é fácil, mas precisamente por isso não escolhas atalhos, não te precipites e não decidas sozinho. E se sentires que, à tua volta, não tens quem te possa orientar, não deixes de pedir ajuda às próprias instituições de ensino.
SEIS RECOMENDAÇÕES QUE TE PODEM AJUDAR _
ESTUDANTES
Não te deixes bloquear pela incerteza
_A decisão sobre o que estudar ou que carreira prosseguir é importante, mas não condicionará a vida académica ou profissional de forma definitiva. Há sempre oportunidade de corrigir ou de afinar a escolha ao longo da vida.
Analisa vários fatores e não afuniles a decisão
_Cada um decidirá o que é para si mais relevante, uma vez que não existem caminhos únicos, mas há fatores que prevalecem, como a qualidade/prestígio da instituição, a empregabilidade futura, a localização e acessos, os requisitos de entrada. Não deixes de os analisar e de procurar perceber as diferenças existentes entre as áreas de estudo ou instituições que ponderas frequentar.
Informa-te e revê expetativas
_Informa-te sobre possíveis saídas profissionais, se te identificas com elas e se as expetativas que tens sobre uma profissão ou área de estudo estão alinhadas com a realidade.
Recorre a informação oficial e fidedigna
_Evita as redes sociais e canais informais, onde a informação pode estar desatualizada ou até ser falsa. Portais do Ministério da Educação, do Ministério do Ensino Superior, ou ainda sites como o Brighter Future, da Fundação José Neves, são uma fonte de informação fidedigna.
Evita os atalhos
_Tomar decisões nem sempre é fácil. Demora tempo, requer investimento pessoal e despende energia. Mas entregar o ónus da decisão a outros ou até querer acelerar o processo com decisões intuitivas será sempre mais prejudicial.
Não hesites em pedir ajuda
_As instituições de ensino estão de portas e canais de comunicação abertos para apoiar a tua tomada de decisão. Sobretudo, não deixes que alguma desvantagem competitiva que tenhas (por exemplo, por falta de aconselhamento em casa) te prejudique: recorre à ajuda que existe à tua disposição.
E a vários níveis. Num mundo que muda tão rapidamente, é imprescindível a aquisição de competências para responder a novas exigências profissionais. Porque as qualificações fazem a diferença. Os números falam por si: em média, quem completa o ensino superior tem maior probabilidade de estar empregado e tem salários mais elevados. Em 2021, os jovens entre os 25 e os 34 anos com licenciatura tinham um salário 41% superior aos que ficaram pelo ensino secundário.
Também aqueles que terminaram cursos do pós-secundário têm ganhos salariais em cerca de 12% face aos do ensino secundário. Quem termina cursos Técnicos Superiores Profissionais tem, em média, um salário 12% superior a quem não prossegue os estudos após o ensino secundário.
... as áreas de estudo têm vantagens distintas?
Também aqui, a vários níveis. Numas áreas paga-se melhor do que em outras, há áreas que apresentam um menor risco de desemprego e há ainda áreas em que é menos frequente encontrar-se emprego em profissões que, à partida, exigem qualificações mais baixas. Curioso?
As áreas de estudo do ensino superior em que...
...Há salários médios mais elevados _
Ciências Empresariais
Engenharia e técnicas afins
Informática
Matemática e Estatística
Saúde
...Há menor risco de desemprego nos primeiros anos após a formação _
Ciências da vida
Engenharia e técnicas afins
Informática
Matemática e Estatística
Saúde
...Há menor risco de trabalhar em profissões que exigem qualificações mais baixas _
Arquitetura e Construção
Ciências veterinárias
Engenharia e técnicas afins
Informática
Saúde
... não é indiferente a instituição onde se estuda?
Um mesmo curso pode ser organizado de maneiras distintas, consoante as instituições — por exemplo, introduzindo outros conteúdos disciplinares ou adotando práticas pedagógicas inovadoras. Da mesma forma que, por isso, também são diferentes as vantagens dos cursos consoante as instituições. Ou seja, para além de decidir o que estudar, importa igualmente decidir sobre onde estudar.
... há muita informação disponível para te orientar nas tuas escolhas?
É cada vez mais completa a informação sobre as várias ofertas educativas pós-secundário, seja sobre as características dos cursos, seja sobre a sua empregabilidade. Por exemplo, hoje em dia é possível saber muito acerca de cada curso do ensino superior, nomeadamente:
_ Como evoluiu o número de inscritos e diplomados e quantos são homens e mulheres. _ A situação dos inscritos no 1º ano após a entrada no curso e a distribuição da classificação final. _ O risco de desemprego dos diplomados nos primeiros anos após a formação.
... há um site onde essa informação está toda concentrada?
Sim, no Brighter Future da Fundação José Neves, onde é possível:
_ Pesquisar cursos do ensino superior por área de estudo, região do país, nível de ensino, tipo de ensino (privado/ público) ou tipo de instituição (universitário/politécnico). _ Saber mais sobre cada profissão: as suas tarefas, evolução do número de trabalhadores, salários médios, nível de educação mais comum, competências mais relevantes, e muito mais. _ Explorar as competências de que necessitas para seguir uma determinada profissão ou exercer um determinado tipo de funções. No fundo, um site que te dá informação para poderes tomar uma decisão mais informada.
Uma decisão envolta em incerteza...
Quando o processo de decisão implica lidar com elevados graus de incerteza e não se trata apenas de uma escolha sobre que livro comprar ou onde almoçar, decidir deixa de ser um processo simples e fácil, e passa a ser complexo e difícil. Há incerteza, falhas na obtenção da informação relevante e a convicção de que as consequências da decisão serão impactantes. E é por isso que, quanto maior é a incerteza, maior a necessidade de informação e maior a dificuldade em confiar no processo de escolha.
... e muito pessoal. Afinal somos todos diferentes
E essa diversidade manifesta-se nas escolhas. O comportamento face à informação é influenciado pela maneira de ser de cada um: pelos aspetos pessoais, pelas dimensões sociais ou pelo próprio contexto em que vive. É por isso que não existe um processo de decisão único ou que se possa definir como ideal para todos. Pessoas diferentes, em contextos diferentes ou com preferências diferentes, tomam decisões diferentes. E todas elas válidas.
O que é acertado para um poderá ser errado para outro
Cada um tem as suas próprias prioridades, logo, os processos de decisão seguirão caminhos distintos e plurais. O que é preferível ou prioritário para um poderá ser errado para outro. Ora, este pluralismo, que é fonte de riqueza social e económica, torna mais complexa a compreensão daquilo que se esconde por detrás de cada decisão.
Como tomamos decisões complexas?
Durante anos, acreditou-se que o processo de decisão é fundamentalmente formal e sequencial: pesquisa de informação, análise orientada por evidências e, por fim, uma decisão. Ou seja, segundo esta teoria, procuramos informação, analisamos e identificamos as opções possíveis, comparamo-las em critérios que consideramos essenciais e fazemos a nossa escolha, que só trará frutos no futuro. Tudo feito de forma deliberativa, informada e racional. Ora, a investigação mais recente indica que não é realmente assim.
Os factores socioemocionais dominam
Estudos das ciências comportamentais demonstraram que o comportamento individual não segue forçosamente as premissas racionais e que os fatores socioemocionais prevalecem. Ou seja, para a tomada de decisão, têm frequentemente mais peso os fatores pessoais, sociais, económicos e emocionais do que a razão e a lógica. Saber isto é importante, porque nos alerta para os riscos de enviesamento nas nossas decisões e para a necessidade de os evitar.
O que tens de decidir?
Grande parte da tua decisão tem que ver com o curso e com a instituição onde irás estudar. Pretendes fazer um Curso de Especialização Tecnológica (CET)? Gostarias de frequentar o ensino superior? E, se sim, procuras um curso de Técnicos Superiores Profissionais (TeSP) ou matricular-te numa licenciatura/ mestrado integrado? E, quando decidires o quê, já pensaste onde — universidade ou politécnico, perto ou longe da tua residência atual, uma entidade pública ou privada? São muitas pequenas decisões, todas com grandes implicações pessoais, educativas e financeiras. Mas para todas essas decisões terás a informação de que precisas.
Uma escolha desafiante, com elevado grau de incerteza
Decidir o que estudar arrasta consigo um elevado grau de incerteza que se mantém durante muito tempo.
os efeitos positivos da tua educação demoram tempo a materializar-se. Não são instantâneos em termos de carreira ou salários e, por isso, não conseguirás determinar o valor de um curso no dia seguinte à sua conclusão _
Além disso, a realidade muda significativamente com os avanços tecnológicos, as pandemias e muitas outras variáveis incontroláveis que aumentam o grau de incerteza. Não vale a pena resistir, pois não há como evitá-lo: não existe uma solução única e nem uma informação perfeita para necessidades que são variadas e plurais. Saber isto é fundamental para uma preparação adequada e para não desanimar.
OK, mas é preciso desdramatizar
Escolher o que estudar, as competências que se quer adquirir e qual a área onde se quer trabalhar não deve ser uma decisão dramática nem angustiante. Nada é irreversível. Já lá vai o tempo em que essa decisão era irremediável e determinava completamente o teu percurso profissional até ao resto da vida. Hoje, não é assim.
Não há determinismos e o mercado de trabalho evolui
Não há fatalismos nas qualificações. Com uma mesma formação, pessoas diferentes desenham caminhos de vida muito diferentes. Além disso, o mercado de trabalho muda a grande velocidade. As necessidades e os desafios de hoje não são os mesmos de amanhã, há funções profissionais que atualmente não existem e que exigirão competências complementares ao longo da vida. Além disso, em termos de qualificações, podes sempre complementar o teu percurso: ao longo da vida, existem muitas oportunidades para continuar a estudar, seguindo as áreas de formações anteriores ou apostando em áreas diferentes, que vão diversificar as tuas competências. Ou seja, ao optares por uma determinada área de estudo, não ficas acorrentado a essa área. Ao longo da vida, poderás e deverás adaptar-te à medida dos teus interesses e das necessidades do mundo do trabalho.
Com uma mesma formação, pessoas diferentes desenham caminhos de vida muito diferentes _
Escolhas acertadas dependem de informação fiável
Por mais que consideres que já sabes por que via pretendes prosseguir os teus estudos, não deves dispensar a consulta de informação. Nesse caso, através de informação fiável perceberás se as tuas expetativas estão alinhadas com a realidade. E saberás o que aprenderás no curso escolhido, a empregabilidade dessa área de estudo e os salários médios, por região. A informação sobre a oferta existente poderá também abrir horizontes para optares por áreas de estudo que eventualmente não consideraste anteriormente, mas que agora te parecem alinhadas com as tuas preferências e ambições. Não é possível decidir acertadamente, nem gerir a incerteza associada a essa escolha, sem informação rigorosa sobre as opções que tens à tua disposição.
E se não souberes o que queres fazer ou estudar?
A chave permanece na informação que te permitirá explorar as opções possíveis, ajudando-te a compreender as funções associadas a diferentes profissões e os caminhos de qualificação correspondentes, assim como as taxas de empregabilidade respetivas. Pondera realizar testes psicotécnicos, se sentires necessário — o autoconhecimento é uma forma poderosa de definir preferências que, depois, podem ser confrontadas com toda a informação existente.
A informação é uma mais-valia, mas só se for entendida e de confiança
Não é por se consultar muita informação que forçosamente se fica muito informado. A utilidade da informação depende de vários fatores, que se resumem numa ideia: a informação tem de ser entendida para ser útil. E nem sempre é fácil entender a informação que nos é oferecida. Há limitações na quantidade e complexidade de informação que uma pessoa é capaz de processar quando tem de tomar uma decisão. E isso pode ser difícil de gerir face à imensidão de comunicações das instituições de ensino, das listagens da oferta educativa existente, de portais virtuais com dados sobre as ofertas e a empregabilidade, etc. Para não te sentires soterrado em tanta informação, o ponto-chave é entenderes a mais-valia da informação que encontrarás em cada fonte que consultes.
Informação sim, mas só de confiança
A palavra-chave para descrever a informação de qualidade é confiança. Perante qualquer assunto, e ainda mais num tema sobre o qual se tem pouco conhecimento, a confiança nas fontes de informação e nos elementos informativos é crucial. Daí que as fontes de proximidade, como pais, professores e amigos, sejam uma constante. No fundo é uma forma de simplificar um processo de decisão que é complexo: confiares em pessoas que te conhecem e te podem orientar. A ideia por detrás é que estas pessoas do teu círculo pessoal têm um conhecimento maior sobre as opções existentes (pais e professores), ou partilham prioridades semelhantes (amigos). Como mais à frente verás, nem sempre assim acontece.
Professores, pais e instituições de ensino são as fontes primordiais
A classificação das fontes de informação por ordem de confiança, baseada na realidade britânica, revela-nos quem tem maior influência e três aspetos relevantes. O primeiro é a ligeira vantagem dos professores face à família em relação às fontes de proximidade, ambos tidos como muito mais confiáveis do que os amigos (apenas 29% dos inquiridos tem neles confiança elevada). O segundo é a menor confiança que os jovens inquiridos evidenciam nos aconselhamentos profissionais. O terceiro aspeto é para as redes sociais, percecionadas como as fontes de informação menos fiáveis.
Confiança nas fontes de informação sobre o ensino superior, Reino Unido _
FONTE: Gibbs, P. & Dean, A. (2015). Do higher education institutes communicate trust well?. Journal of Marketing for Higher Education, DOI: 10.1080/08841241.2015.1059918
As instituições como fontes preferenciais
As duas fontes de informação mais procuradas são os sistemas de informação oficiais ligados ao acesso ao ensino superior e as próprias instituições de ensino (via visita presencial, via a sua página de Internet ou via brochuras informativas). As visitas presenciais às instituições de ensino têm forte influência e são consideradas por muitos (principalmente os mais novos) como a fonte principal de informação.
Em média, quais os indicadores de informação mais valorizados?
Cada um terá os seus. Mas, segundo a investigação, há indicadores que são transversais nas pesquisas dos jovens: fatores reputacionais, considerações financeiras, prospetiva de carreira, qualidade dos programas de ensino e localização. No entanto, surgem variações relevantes entre os países. No caso britânico, por exemplo, a lista foca-se na qualidade das instituições (reputação ou indicadores de qualidade), na satisfação dos alunos e na empregabilidade/salários. Num outro exemplo, no caso sérvio, o critério mais valorizado é a possibilidade de obtenção de emprego após a conclusão do curso, seguindo-se a reputação da formação/curso superior e, em específico, a reputação dessa qualificação num contexto internacional.
E em Portugal?
Sobre os jovens portugueses, a investigação chegou a duas conclusões principais. Primeiro, observa-se uma abordagem racional na escolha da instituição de ensino. Nesse processo racional, tende-se a valorizar o prestígio da instituição, a sua localização, a empregabilidade e os espaços de lazer existentes na área geográfica da instituição. A reputação e a empregabilidade, por um lado, e a localização geográfica, por outro lado, revelam-se os fatores mais relevantes. A segunda conclusão é que, em média, os jovens portugueses aplicam uma abordagem mais socioemocional na escolha do curso a frequentar. Ou seja, escolhe-se o curso de forma emocional e mais intuitiva e, só depois, se procura a informação para consolidar essa preferência.
Que sistema de pensamento adotar?
As caraterísticas pessoais, sociais e contextuais estão omnipresentes e têm influência do início até ao fim do processo de decisão, como referimos logo ao início. Mas há um outro fator-chave: o sistema de pensamento que adotas. Para se chegar a um conjunto de opções, com vista a decidir, processa-se tudo através de um de dois sistemas de pensamento: (1) rápido e intuitivo, ou (2) lento e deliberativo. É de esperar que, numa escolha educativa, o sistema 2 (deliberativo) obtenha resultados mais rigorosos do que o sistema 1 (que valoriza a velocidade), embora este sistema implique maior esforço e tempo. Ou seja, se tentares decidir rápido e de forma intuitiva, estarás a correr o risco de tomar uma decisão imperfeita. Sabendo isto, podes auto-avaliar se estás a usar o pensamento rápido e intuitivo e considerar alterares para o mais lento e deliberativo.
Não olhes apenas para o presente
Perante decisões complexas e com implicações duradouras, surge a tentação de adotar um sistema de pensamento mais rápido e intuitivo. Ora, isso implica seguir atalhos e, consequentemente, arriscar enviesamentos na decisão. Neste caso, existem vários tipos possíveis de enviesamento. Por exemplo, teres o foco apenas no presente. Avalia-se os custos a suportar de imediato, mas há mais dificuldade em perceber os benefícios futuros das escolhas. Ora, estas vistas curtas podem levar a sobrevalorizar os custos e a desvalorizar os benefícios da educação.
Cuidado com os atalhos e os enviesamentos
Há mais exemplos de enviesamentos possíveis. Um é ir em busca de “confirmação”: em vez de pensares nas tuas preferências pessoais, baseares a tua escolha naquilo que julgas que “pessoas como tu” iriam decidir. Outro é reagires de forma desligada e desatenta, recusando o esforço de processar a informação e decidires (o que, inevitavelmente, te afastará dos percursos mais alinhados com as tuas preferências). Moral da estória: não recorras a atalhos que te poderão afastar das escolhas ótimas para ti.
Assegura-te que avalias a informação de forma objetiva
Quando estás a selecionar e a comparar opções que são muito parecidas entre si (na mesma área de estudos), em vez de opções alternativas (áreas de estudo distintas), surge um risco de enviesamento que deves ter em conta. É que nesse processo terás de identificar atributos diferenciadores entre as ofertas e valorizá-los subjetivamente, o que, em muitos casos, te levará a ignorar diferenças que avalias como pequenas, porque as consideras irrelevantes. Mas será que são mesmo irrelevantes? Cuidado em não desvalorizar diferenças que, apesar de pequenas, podem ter grandes implicações ou, inversamente, a sobrevalorizar discrepâncias com pouco relevo. Se tiveres dúvidas, o melhor é pedires ajuda para ler a informação de forma rigorosa.
terás de identificar atributos diferenciadores entre as ofertas e valorizá-los subjetivamente _
Nem todos têm as mesmas condições de partida. E isso conta
As desigualdades sociais têm um peso muito relevante no percurso educativo. A relação entre o perfil socioeconómico (em particular, a formação dos pais e os rendimentos do agregado familiar) e as probabilidades de sucesso escolar estão demonstradas por inúmeros estudos e todos as constatam diariamente. Quanto mais desfavorecido for o contexto familiar, maior o risco de insucesso escolar — e vice-versa. Entre os países da OCDE, Portugal aparece como um dos países em que esse perfil socioeconómico mais condiciona as expetativas e as escolhas educativas dos alunos. Por exemplo, já aos 15 anos, os jovens portugueses de contextos sociais favorecidos têm uma maior expetativa de prosseguir para o ensino superior do que os jovens mais desfavorecidos. Uma diferença de 44 pontos percentuais, que fica acima da média da OCDE e de outros países europeus. Os jovens de contextos sociais desfavorecidos tendem a baixar a fasquia, a não prosseguir no ensino superior ou não considerar as universidades mais prestigiadas e competitivas por acharem que estão fora do seu alcance. Em muitos casos por critérios financeiros — e, se for o teu caso, considera pedir um ISA da Fundação José Neves, que te ajudará a pagar os estudos. Em muitas outras circunstâncias, por preconceito social ou de género, também os pais impõem involuntariamente menores expetativas sobre os seus filhos, condicionando o seu processo de decisão.
FONTE: OCDE (2019), base de dados PISA 2018, Tabela II.B1.6.5
As desigualdades sociais geram assimetrias no acesso e no uso da informação
No acesso e uso da informação, as desigualdades sociais têm um papel determinante. Apesar da informação estar disponível a todos, os jovens socialmente desfavorecidos (e que mais dela necessitariam para orientar o seu processo de decisão) recorrem menos à informação. O resultado é que muitos destes alunos tomam decisões imperfeitas face às suas ambições e preferências, por falta de acesso à informação, por incapacidade de a processar e por lhes faltarem fontes de proximidade com diversidade de experiências educativas. As fontes de proximidade, nomeadamente pais e amigos destes estudantes, têm menor conhecimento assim como experiências a partilhar e, por isso, menos condições para aconselhar. Por isso, se não tens à tua volta quem te possa ajudar nestas tuas escolhas, não deixes de te informar e solicitar orientação junto de outras fontes, nomeadamente as próprias instituições de ensino.
A solução começa em acreditar na mais-valia de estudar
O ponto mais importante é que acredites na mais-valia de prosseguir os estudos e que tenhas acesso a informação. Repara: uma experiência levada a cabo em Itália, com 9 mil alunos, demonstrou que uma campanha de informação dos custos e dos benefícios de estudar no ensino superior tem resultados excelentes e atrai mais jovens para continuarem os seus estudos.
Orientação: ajudar os pais é ajudar os jovens
Sobre a gestão da informação, uma forma de ajudar é que as instituições incluam conteúdos direcionados às famílias: quanto melhor for a compreensão dos pais do que está em causa, melhores conselhos poderão dar aos seus filhos. Mas não só: tu próprio podes envolver os teus pais nas tuas ações, por exemplo, indo com eles visitar instituições de ensino. O apoio de proximidade é realmente importante. Não hesites em contactar os serviços de apoio das instituições ou aderir a programas de acompanhamento individual. Um exemplo bem-sucedido é o programa das mentorias. Uma aplicação recentemente testada foi a introdução de mentorias feitas por alunos universitários, que “apadrinharam” alunos do secundário e os orientaram. A experiência mostrou-se eficaz para os alunos com perfil socioeconómico desfavorecido, ajudando-os a decidir o percurso formativo/ ensino superior de forma mais alinhada com o mercado de trabalho.
RECOMENDAÇÕES PARA AS FAMÍLIAS _
PAIS
Estejam disponíveis
_Para ajudar, para ouvir, para dar reforço positivo e para elevar expetativas. A decisão é dos vossos filhos, mas os pais são um elemento-chave no processo e uma fonte em quem eles confiam e que nunca deixam de consultar.
Informem-se
_Os conselhos serão tão mais úteis quanto puderem aliar a sua experiência de vida a um conhecimento atualizado sobre a oferta existente e sobre o alinhamento das suas ambições pessoais com o mercado de trabalho.
Mobilizem as redes de contactos
_É importante para um jovem sentir que tem fontes de proximidade que o podem ajudar a compreender as escolhas que tem pela frente, trazendo relatos diversificados de experiências profissionais e formativas.
Potenciem visitas a instituições ou a feiras sobre ofertas educativas
_O contacto com agentes educativos de várias instituições será uma mais-valia e, para os mais novos, um fator de relevo na sua decisão.
Confiem e deem autonomia
_Evitem condicionar as escolhas com preferências que não sejam as deles. Ajudem na decisão, mas permitam que os vossos filhos se sintam livres e responsáveis, como jovens adultos que são.
Todos temos perfis, percursos, contextos e ambições diferentes, o que faz com que não exista uma solução única de formação ou carreira que sirva a todos.
Escolher um curso ou formação pode não ser fácil, mas é apenas uma das muitas decisões que terás pela frente e não define o resto da tua vida.
Informa-te sobre as opções, pondera e pede ajuda neste processo sempre que necessário. O importante é que tomes uma decisão informada sobre o teu futuro.
FICHA TÉCNICA
EDITOR_ Margarida Rodrigues (Fundação José Neves) AUTORES_ Alexandre Homem Cristo e Inês Teotónio Pereira (Associação QIPP – Projetos Sustentáveis)
PATROCÍNIO CIENTÍFICO_ Carla Sá (Universidade do Minho)
DIREÇÃO GERAL_ Carlos Oliveira GESTÃO DE INVESTIGAÇÃO_ Margarida Rodrigues DIGITAL_ Mónica Pacheco INFOGRAFIAS_ Pedro Figueiredo
Este Guia foi revisto e atualizado em fevereiro de 2024.
REVISÃO EDITORIAL_ Susana Ambrósio (Gestora de Investigação) e Miguel Araújo (Assistente de Investigação)